Crescimento vai na contramão da maioria das legendas, que reduziram as candidaturas em relação a 2020. 'Só vamos conseguir fazer essa briga no Congresso usando as mesmas armas que eles', diz presidente da legenda sobre uso do fundo eleitoral.
Por Paula Paiva Paulo e Arthur Stabile | g1
O Novo registrou o maior aumento de candidaturas entre os 29 partidos que disputam as eleições municipais de 2024.
Eduardo Ribeiro, presidente do partido Novo. — Foto: Divulgação/Novo |
Neste ano, o partido vai ter 7.529 candidatos, ante os 620 de 2020. O aumento, de 1.114%, vai na contramão do que a maioria das siglas fez no período: das 29, 18 reduziram o número de candidatos (clique aqui para entender os motivos da queda).
O aumento ocorre na primeira eleição em que o Novo decidiu usar dinheiro do Fundo Eleitoral. Para 2024, o partido terá R$ 37,1 milhões, uma das menores fatias (o PL, que lidera, tem R$ 887 milhões). Fundada em 2015, a sigla sempre foi contra uso de dinheiro público em campanhas.
"O partido decidiu fazer essa escolha, foi um pouco difícil no começo porque, sim, havia essa bandeira, esse dogma, mas hoje está absolutamente pacificado", diz Eduardo Ribeiro, presidente do Novo
No entanto, Ribeiro afirma que o fundo eleitoral não é o principal motivo para o aumento de candidaturas.
“O principal fator foi uma mudança estratégica do partido. Porque em 2020 o nosso o partido decidiu ser muito restritivo na expansão das cidades que gostaria de disputar, e isso foi prejudicial para o Novo, teve impacto nas eleições de 2022, não criamos uma base importante para deputados estaduais e federais”, diz Ribeiro.
Em 2022, o Novo não atingiu a cláusula de barreira – regra que estabelece um desempenho mínimo que os partidos devem obter nacionalmente na eleição para a Câmara. Com isso, em 2024, o partido ficou sem acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV. "Mas, como economizamos o fundo partidário desde 2015, temos em caixa hoje R$95 milhões."
“Usar as mesmas armas que eles”
Ribeiro argumenta que a mudança em relação ao uso de dinheiro público para campanha eleitoral mudou por conta de mudanças no financiamento privado de campanhas."Quando o partido foi concebido, o modelo de financiamento era diferente. Tinha financiamento de pessoa jurídica [proibido a partir da eleição de 2016], o fundo partidário era uma fração do que é hoje, havia pouco recurso público destinado aos partidos políticos", diz o presidente do Novo.
"Ou a gente entende que só vamos conseguir fazer essa briga no Congresso usando as mesmas armas que eles ou a gente pode correr o risco de deixar de existir, porque se caminha para um modelo em que as doações privadas vão deixar de existir."
Quais partidos aumentaram o número de candidatos? E quais diminuíram?
Os partidos que passaram a integrar federações (que permitem a dois ou mais partidos atuarem como se fossem um só) estão entre os que tiveram maiores quedas nos números de candidatos em 2022.É o caso do Cidadania, que lidera o recuo, com 72% menos candidatos do que em 2020 (eram 17.539 e agora são 4.960). A legenda formou federação com o PSDB em 2022.
Segundo o presidente do Cidadania, Comte Bittencourt, a regra da federação é que a legenda com maior representação local lança 80% dos candidatos. Como o PSDB é um partido maior e com maior capilaridade em boa parte das cidades, cabe ao Cidadania lançar 20% das candidaturas nestes municípios.
Além disso, segundo Bitencourt, houve um êxodo de políticos após a aliança.
"No processo de federação, tivemos perdas como o estado da Paraíba, com o governador João Azevedo [que retornou para o PSB]. Junto dele saíram 43 prefeitos", afirma Bittencourt, que ressalta: "Os números estão dentro do nosso planejamento estratégico, não tem nenhuma surpresa".
Os outros dois partidos com maiores quedas são o PCdoB, com 71% e o PV, com 62%. Os dois formaram federação com o PT em 2022.
Os partidos que encabeçam essas federações, ainda assim, registraram recuo. No caso do PSDB, a queda foi mais expressiva: 35%. O PT diminuiu em 7% o número de candidatos.
Legenda que mais elegeu prefeitos em 2020, o MDB diminuiu ligeiramente o número de candidatos para 2024 – 3%, mesmo percentual de recuo do PSD, que foi a 3ª mais vitoriosa nas disputas pelas prefeituras há 4 anos. A 2ª colocada, PP, está no grupo das que nove (junto com o Novo) que aumentaram o número de candidatos, e terá 2% a mais.
Também integram o grupo dos partidos que aumentaram as candidaturas o DC (45%), o PMB (43%) com 43%, o Mobiliza, antigo PMN (30%), PL (26%), PCO (20%), Republicanos (17%) e Podemos (14%).
Para Carlos Melo, cientista político do Insper, uma parte do aumento das candidaturas pode ser explicada pelo crescimento do fundo eleitoral de partidos que tiveram um bom desempenho na eleição de 2022.
O PL, por exemplo, terá o maior fundo eleitoral de 2024, R$ 887 milhões, um aumento de mais de 500% ante os R$ 154 milhões de 2020 (em valores corrigidos). Em 2022, a legenda triplicou o número de deputados federais eleitos em relação a 2018, de 33 para 99.
"O PL é a maior bancada no Congresso Nacional, tem 90 e poucos deputados. Os deputados são muito vinculados aos municípios. O deputado, hoje, é um vereador federal. Ele não é muito mais preocupado com o Brasil não, ele está preocupado com o curral [eleitoral], porque é dali que vem os votos", afirma Melo.
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