PF deflagra operação contra compra de votos na Região dos Lagos do Rio

Investigados são acusados de agendarem consultas em hospitais municipais e oferecerem dinheiro em troca do apoio a candidatos a vereador em Cabo Frio e São Pedro da Aldeia


Por Rafaela Gama | O Globo — Rio de Janeiro

A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta terça-feira uma operação contra um esquema de corrupção eleitoral e compra de votos por parte de vereadores eleitos em Cabo Frio e São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos, Rio de Janeiro. Na ação, são cumpridos sete mandados de busca e apreensão nas residências dos investigados e nas Câmaras Municipais das cidades. Segundo O GLOBO apurou, entre os alvos estão os vereadores André Jacaré (PSB) e Jackson Souza (Podemos).

Os vereadores André Jacaré (PSB), de Cabo Frio, e Jackson Souza (Podemos), de São Pedro de Almeida, foram alvos da operação de busca e apreensão da PF na manhã desta terça-feira — Foto: Reprodução/Redes sociais

Segundo os investigadores, o caso começou a ser apurado em Cabo Frio no dia do primeiro turno do pleito municipal do ano passado, após cabos eleitorais do vereador eleito André Jacaré serem conduzidos à PF sob suspeita de compra de votos. Junto deles, foram apreendidos santinhos e uma quantia em dinheiro fracionada em cédulas de R$ 100.

Em seguida, investigadores tiveram acesso a conversas que "confirmam a prática ilícita em diversos aspectos", incluindo por meio do agendamento de consultas médicas em um hospital municipal no bairro Jardim Esperança, reduto eleitoral de Jacaré. Ainda de acordo com a polícia, um enfermeiro da unidade médica estaria envolvido no esquema, realizando os agendamentos como moeda de troca.

Já em São Pedro da Aldeia, também durante o primeiro turno, um eleitor foi conduzido para PF por ser flagrado filmando a urna eletrônica no momento do voto. As investigações apontaram que a filmagem foi feita a mando de um cabo eleitoral para comprovar o voto e, assim, receber a quantia de R$ 100.

"As conversas obtidas pela PF detalham toda a negociação, incluindo que a entrega dos valores seria realizada no comitê de campanha do candidato, situado no bairro Mossoró", informa a PF. O vereador em questão seria Jackson Souza, ex-assessor parlamentar do deputado estadual Vinicius Cozzolino (União), que tem como reduto eleitoral o município de Magé, na Baixada Fluminense.

Os envolvidos no esquema poderão responder pelo crime de corrupção eleitoral, além de outros delitos que podem ser revelados no decorrer das apurações. Procurada, a Câmara Municipal de Cabo Frio afirmou que tomou conhecimento "do cumprimento de um mandado judicial no gabinete de um vereador" e se colocou "à disposição tanto do vereador quanto da Polícia Federal para colaborar no que for preciso". Perguntado sobre André Jacaré, o órgão afirmou que, "por decisão do próprio gabinete, não está autorizado a repassar contatos do vereador ou de sua equipe"

Procurado, Jackson Souza negou conhecer qualquer pessoa citada na investigação. O vereador relata que "nada foi encontrado" pelos agentes em sua residência ou no seu gabinete, e que "colaborou com a busca durante toda a ação, fornecendo inclusive as senhas de aparelhos celulares". Sobre André Jacaré, Souza afirmou conhecer "por nome", mas não ter nenhuma ligação com o parlamentar.

Operações contra fraudes eleitorais

A ação desta terça-feira deu prosseguimento a um conjunto de operações da PF contra crimes eleitorais investigados no estado após o pleito do ano passado. No mês passado, o prefeito de Cabo Frio, Dr. Serginho (PL), foi alvo de uma busca e apreensão por suposto envolvimento com uma quadrilha suspeita de ter praticado caixa dois, lavagem de dinheiro, fraude de licitações e obstrução da Justiça. Além das dependências ligadas a ele, também foram buscados endereços ligados ao deputado estadual Waldecy da Saúde (PL) e a Aarão de Moura Brito, ex-prefeito e candidato na disputa municipal de Mangaratiba.

Segundo a PF, a ação foi resultado de outra feita em setembro do ano passado, denominada Operação Teatro Invisível. Na época, autoridades prenderam quatro pessoas suspeitas de participarem de um esquema de contratação de atores para participarem de um teatro de rua que buscava influenciar o voto dos eleitores e desmoralizar candidatos rivais. Após as apreensões na primeira fase, investigadores descobriram que o grupo era composto por sócios de empresas que teriam fraudado processos licitatórios no RJ, além de terem utilizado recursos não declarados à Justiça Eleitoral.

Já em fevereiro, o prefeito de Nilópolis, Abraão David Neto, o Abraãozinho, também foi alvo de uma operação que investigava um esquema de compra de votos, fraude à cota de gênero, apropriação de recursos destinados ao financiamento eleitoral e lavagem de dinheiro. A ação foi fruto de uma investigação iniciada em outubro do ano passado, que rendeu a prisão de outras 24 pessoas em flagrante.

Segundo a PF, na residência de Abraãozinho foram encontrados R$ 172 mil em espécie. Em um segundo endereço, no Recreio dos Bandeirantes e atribuído ao procurador-geral da Câmara Municipal, Bruno Cabral Pereira, foi encontrado um carro do modelo Shelby Cobra VB 302, avaliado em R$ 200 mil em sites de colecionadores. De acordo com investigadores, foram apreendidos celulares, mídias e documentos diversos.

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