Mesmo com as denúncias, a Polícia Federal não ouviu envolvidos nem realizou diligências
O Antagonista
Servidores do INSS responsáveis por descredenciar associações suspeitas de realizar descontos irregulares em aposentadorias foram alvo de ameaças e intimidações, segundo reportagem do Jornal Nacional. Mesmo com as denúncias, a Polícia Federal não ouviu envolvidos nem realizou diligências. Os inquéritos foram encerrados após três anos, sem identificar os autores.
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Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil |
As ameaças começaram em 2020. Em um dos casos, a mãe de um servidor recebeu mensagem pedindo o endereço do filho para “fazer uma surpresa”. Outro recebeu um texto com informações pessoais, como o nome da mãe, o modelo do carro dela e dois endereços.
Os servidores atuavam para cancelar acordos com entidades suspeitas. Entre 2019 e 2020, ao menos dez associações foram descredenciadas por irregularidades. Eles acreditam que a reação criminosa foi motivada pela suspensão desses repasses, que comprometiam o fluxo financeiro das entidades.
Um mês após as ameaças, o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, retirou da área técnica essa função de fiscalização. A mudança coincidiu com uma guinada nos números: de janeiro de 2019 a outubro de 2020, nenhuma nova entidade havia sido credenciada. Após a alteração, 24 novas associações foram habilitadas e outras seis, antes barradas, voltaram a operar.
Os descontos promovidos por essas entidades saltaram de R$ 36 milhões, em 2020, para R$ 2,4 bilhões em 2024. Entre janeiro e março de 2025, já somavam R$ 655 milhões — um total de R$ 4,3 bilhões acumulados.
Apesar dos alertas, a PF não ouviu representantes das entidades e não investigou dentro do INSS. Só em abril de 2024, após a imprensa divulgar o caso, foi aberta a Operação Sem Desconto, que apontou fraudes generalizadas nos descontos a aposentados.
Reportagem
A fraude no INSS foi revelada pelo repórter Luiz Vassalo, cujas reportagens geraram investigações de auditores concursados da Controladoria-Geral da União (CGU) e agentes da Polícia Federal (PF).Os casos surgiram em 2019, sob o governo de Jair Bolsonaro, e aumentaram exponencialmente quatro anos depois, sob o governo Lula. No total, 6 milhões de pessoas vinham sendo descontadas mensalmente em seu salário de aposentadoria, a maioria sem consentimento, comprometendo ao todo R$ 6,3 bilhões. Os descontos só foram alegadamente suspensos em abril de 2025.
O esquema levou ao afastamento de seis servidores, à demissão do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e à saída do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), após reunião com Lula.
O escândalo gerou reações de ambos os lados. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) publicou um vídeo responsabilizando o governo Lula pela fraude, enquanto o deputado André Janones (Avante-MG) rebateu com conteúdo em defesa da atual gestão, culpando a administração Bolsonaro.
“Eu não tinha que fazer nada, não”
O tema também foi debatido na Comissão de Transparência do Senado, em uma troca de acusações entre o novo ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, e o senador Sergio Moro (União Brasil-PR).O ministro atribuiu as irregularidades ao governo anterior, enquanto Moro criticou a demora do atual governo em responder ao problema.
O senador reforçou que, em junho de 2023, em uma reunião do Conselho Nacional de Previdência Social na qual Wolney estava presente, a conselheira Tônia Galleti citou que tinha recebido denúncias de descontos associativos não autorizados, mas o tema não foi incluído na pauta do encontro pelo então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, mesmo com pedido da conselheira naquele momento, e voltou a ser tratado apenas no ano seguinte.
“O senhor ouviu na reunião, na reunião foi informado sobre as fraudes, vossa excelência não fez nada”, disse Moro.
“Eu não tinha que fazer nada, não”, respondeu Wolney. E Moro rebateu: “Vossa excelência era pessoa de confiança de Carlos Lupi e continua no ministério”.
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