Delação premiada sobre recebimento de propina por deputado do Paraná Ademar Traiano veio à tona em processo no Conselho de Ética; entenda

Parlamentar representou contra o também deputado Renato Freitas (PT) após confusão em plenário quando presidente foi chamado de corrupto. Empresário gravou negociação de pagamentos.


Por Ana Krüger e Carolina Wolf | g1 PR e RPC — Curitiba

O acordo de colaboração que cita propina recebida pelo presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Ademar Traiano (PSD), veio à tona ao ser mencionado em processo por quebra de decoro movido pelo parlamentar no Conselho de Ética da Casa contra o deputado estadual Renato Freitas (PT).

Deputado estadual Ademar Traiano (PSD), presidente da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), e o ex-deputado estadual Plauto Miró (na época, filiado ao DEM) confessaram ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) — Foto: Reprodução

Trechos da delação firmada pelo empresário Vicente Malucelli com o Ministério Público do Paraná (MP-PR) foram anexados às alegações finais apresentadas pelo petista no Processo Administrativo Ético-disciplinar.

Eles mostram que, segundo o MP, Traiano e o ex-deputado estadual, Plauto Miró, receberam propina do empresário para a renovação de um contrato da TV Icaraí, que faz parte do grupo J. Malucelli, para produção de conteúdo da TV Assembleia.

Traiano moveu a representação contra Freitas uma semana após ser chamado de corrupto durante confusão na sessão plenária do dia 9 outubro de 2023.

Ao se defender perante o Conselho de Ética, que poderia cassar o mandato do parlamentar, Renato Freitas teve que provar o que disse.

As alegações finais foram apresentadas pela defesa de Freitas no dia 1º de dezembro e incluem parte do processo que contém a delação de Vicente Malucelli, homologada pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR).

O que diz a delação do empresário


Malucelli era um dos responsáveis pela TV Icaraí, que venceu uma licitação para fazer o planejamento e produção de conteúdo para a TV Assembleia — canal de TV da Alep. O contrato de 36 meses, prorrogável por mais 24, foi firmado em 19 dezembro de 2012.

Conforme o empresário, a negociação da propina aconteceu em agosto de 2015, quando se aproximava o prazo de possível prorrogação do contrato. Os diálogos foram gravados.

Nos trechos destacados pela defesa de Renato Freitas, o delator relata o pedido e o pagamento da propina ao presidente da Alep e ao ex-deputado estadual Plauto Miró, então primeiro-secretário.

Conforme a delação, o pagamento feito aos dois deputados estaduais somou R$ 200 mil.

Políticos admitiram propina


Traiano e Plauto Miró confessaram ao Ministério Público do Paraná que pediram e receberam propina. Ambos fecharam um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) em dezembro de 2022.

No acordo, os políticos tiveram que se retratar da versão dada em depoimentos durante a investigação — onde tinham negado as acusações de Vicente Malucelli.

O presidente da Alep e o ex-deputado se comprometeram a pagar o valor de R$ 187 mil a título de reparação. O pagamento deverá ser feito em uma única parcela.

O que dizem os citados


A TV Icaraí informou que rescindiu o contrato de Vicente Malucelli em julho de 2021.

“A TV Icaraí Ltda. Tem a esclarecer que o senhor Vicente Baptista Malucelli Neto teve o seu contrato de prestação de serviços rescindido na data de 16/11/2021, em razão de condutas incompatíveis com as regras de governança da empresa e, portanto, não integra mais os quadros nem responde por este veículo de comunicação”

A defesa de Vicente Malucelli classificou, nesta quinta-feira (7), a nota da TV Icaraí como inverdadeira. Afirmou que Vicente Malucelli é colaborador do Ministério Público nos escândalos de corrupção anunciados.

Disse também que Joel Malucelli é quem foi preso quando a operação aconteceu justamente por conduta incompatível com as regras de governança corporativa.

O grupo J. Malucelli e o empresário Joel Malucelli não se manifestaram.

O presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano, disse que não pode se manifestar sobre informações que tramitam em segredo de justiça.

O ex-deputado Plauto Miró não retornou as tentativas de contato da reportagem.

O MP-PR disse que os procedimentos investigatórios que estão sob sua responsabilidade já receberam os encaminhamentos que eram necessários para as investigações e que, por ora, não pode se manifestar.

Avaliação do Conselho de Ética


Na terça-feira (5), o relator do processo no Conselho de Ética, Matheus Vermelho (PP), apresentou parecer no qual diz ter considerado a "preservação da soberania popular das urnas" e propôs a pena de advertência por escrito.

Porém, de acordo com o presidente do Conselho, deputado Jacovós (PL), o acordo firmado por Traiano com o Ministério Público no qual o presidente da Alep confessa ter recebido propina não foi considerado pelo relator.

"Pelo que ele disse, no resumo do voto, ele avaliou apenas a situação ocorrida, a situação, em tese, de ofensa a um parlamentar no exercício do seu mandato. Essa prova, ele não teria avaliado, porque certamente ele considerou que aquela prova não é lícita, porque não veio, assim, não é um documento oficial da Justiça."

Os membros do colegiado pediram mais vista, ou seja, mais tempo para analisar o parecer. A previsão é de que a decisão final saia na segunda-feira (11).

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