Deputado Ademar Traiano (PSD), que nĂ£o se manifesta sobre caso, foi alvo de delaĂ§Ă£o de empresĂ¡rio
Catarina Scortecci | Folha de S.Paulo
Curitiba - O desembargador Rosaldo Elias Pacagnan, do Tribunal de Justiça do ParanĂ¡, derrubou nesta quarta-feira (6) a liminar que censurou reportagens que mostravam que o presidente da Assembleia Legislativa do estado, deputado Ademar Traiano (PSD), confessou ter recebido propina do empresĂ¡rio Vicente Malucelli.
Deputado estadual Ademar Traiano (PSD), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do ParanĂ¡ - Orlando Kissner/Assembleia Legislativa do Estado do ParanĂ¡ |
A liminar havia sido assinada pela juĂza de plantĂ£o Giani Maria Moreschi no sĂ¡bado (2), a pedido de Traiano, e levou Ă exclusĂ£o de reportagens relacionadas Ă delaĂ§Ă£o do empresĂ¡rio.
O conteĂºdo da delaĂ§Ă£o jĂ¡ tinha ido ao ar na GloboNews e tambĂ©m foi tratado em publicações do portal G1 e do site Plural, de Curitiba. A liminar ainda impediu a exibiĂ§Ă£o de reportagem que a RPC, afiliada da TV Globo no ParanĂ¡, apresentaria na noite de sĂ¡bado.
Nesta quarta, acolhendo recurso da RPC, o magistrado em segunda instĂ¢ncia entendeu que a delaĂ§Ă£o do empresĂ¡rio, embora sigilosa, havia se tornado pĂºblica porque tinha sido anexada pelo deputado estadual Renato Freitas (PT) em processo disciplinar em que ele Ă© acusado de quebra de decoro parlamentar.
O processo contra Freitas, que tramita no Conselho de Ética da Assembleia, foi movido por Traiano, chamado de corrupto pelo petista durante discussĂ£o na Casa, em outubro. O presidente da Assembleia Ă© aliado do governador Ratinho JĂºnior, tambĂ©m do PSD, e ocupa o comando do Legislativo pela quinta vez.
"Os fatos ganharam total publicidade dentro de um espaço igualmente do povo, que Ă© a Assembleia Legislativa do Estado do ParanĂ¡, por meio de ato de outro representante dos cidadĂ£os, jĂ¡ nĂ£o sendo possĂvel, tampouco legĂtimo e de acordo com a ordem constitucional, proibir ou coibir esse ou aquele veĂculo de comunicaĂ§Ă£o de cumprir o seu propĂ³sito e a sua funĂ§Ă£o social de noticiar os fatos", escreve o desembargador.
Ele acrescentou ainda: "A censura, esta sim, estĂ¡ proibida. Terminantemente".
Entidades como a Abraji (AssociaĂ§Ă£o Brasileira de Jornalismo Investigativo), a Abert (AssociaĂ§Ă£o Brasileira de Emissoras de RĂ¡dio e TelevisĂ£o) e a ANJ (AssociaĂ§Ă£o Nacional de Jornais) haviam criticado nesta semana a decisĂ£o da juĂza de primeira instĂ¢ncia.
Reportagens que tinham sido censuradas afirmavam que, em 2015, Traiano teria recebido R$ 100 mil de Vicente Malucelli, que atuava na TV IcaraĂ, do grupo J.Malucelli. O ex-deputado Plauto MirĂ³, que na Ă©poca exercia mandato e estava na cadeira de primeiro-secretĂ¡rio da Casa, tambĂ©m teria recebido o mesmo valor.
A TV IcaraĂ tinha um contrato de prestaĂ§Ă£o de serviço com a Assembleia, firmado em 2012. O prazo era de 36 meses, com valor total de R$ 11,4 milhões.
Traiano nĂ£o se manifesta sobre o caso, citando sigilo judicial. A reportagem ainda nĂ£o localizou o ex-deputado Plauto.
Ao censurar as reportagens, a juĂza de plantĂ£o havia citado artigo da Lei das Organizações Criminosas que prevĂª que os depoimentos de delaĂ§Ă£o "serĂ£o mantidos em sigilo atĂ© o recebimento da denĂºncia ou da queixa-crime".
No final do ano passado, na esteira da revelaĂ§Ă£o feita pelo empresĂ¡rio, o presidente da Assembleia e Plauto MirĂ³ firmaram um acordo de nĂ£o persecuĂ§Ă£o penal com o MinistĂ©rio PĂºblico do estado.
Nos termos do acordo, eles admitem que receberam ilegalmente o dinheiro do empresĂ¡rio, concordam em fazer uma reparaĂ§Ă£o no valor de R$ 187 mil, e, em troca, se livram de denĂºncias por parte do MinistĂ©rio PĂºblico.
O acordo ainda nĂ£o foi homologado pelo Tribunal de Justiça. O MinistĂ©rio PĂºblico nĂ£o se manifesta sobre o caso, citando o sigilo.
Na segunda-feira (4), Traiano afirmou em sessĂ£o na Assembleia: "Com muita serenidade, paz de espĂrito, tranquilidade, quero informĂ¡-los que, devido Ă s notĂcias veiculadas neste final de semana, digo a todos vocĂªs que nĂ£o farei nenhum pronunciamento, nĂ£o darei nenhuma entrevista, porque esse tema estĂ¡ em segredo de Justiça".
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