Policlínica gratuita em Belford Roxo vira sede do Partido Republicanos, que perdeu as eleições

Ex-prefeito do município, Waguinho, é presidente do diretório regional. Atual gestão desapropriou o imóvel e promete reabrir a unidade de saúde em 15 dias.


Por Lucas Soares e Marina Araújo | RJ1

Moradores de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, reclamam do fechamento de um a clínica no bairro Heliópolis. O espaço, que oferecia gratuitamente serviços de médico, dentista, fisioterapia e aulas de hidroginástica, foi desativado e passou a abrigar a sede do partido Republicanos, ligado ao ex-prefeito do município, Waguinho.

Atual prefeito de Belford Roxo promete reabrir clínica para população — Foto: Reprodução/TV Globo

A atual gestão conseguiu na Justiça desapropriar o imóvel para reabrir a clínica.

A aposentada Helena Fernandes fez dezenas de consultas e tratamentos no local. “Desde 2011 que eu faço tratamento com o ortopedista e fazia fisioterapia e ginecologista, né?", conta.

Hoje, a sala que tinha equipamentos para fisioterapia está praticamente vazia. Rosângela Santos, também aposentada, vinha de longe para fazer hidroginástica.

“A gente vinha com vontade, né? A gente gostava de vir na hidro. Agora, todo mundo em casa parado e a gente fica com dor, né? Eu tenho um problema seríssimo no joelho. Eu fazia aqui pilates também, cortaram o pilates. Não tem condições de pagar uma [clínica] particular”, fala.

A piscina onde as aulas aconteciam está desativada.

Clínica fechou após derrota de Waguinho

Na gestão do prefeito Waguinho, a unidade de saúde funcionava como a Policlínica Areia Branca, administrada pelo Movimento Internacional para a Saúde e Serviço Social (MISSS), uma instituição privada.

Conhecida pela população como Clínica Tamoio, a unidade oferecia diversos serviços de saúde à população, em um convênio com a prefeitura.

Mas, depois da eleição, com a derrota de Waguinho, o espaço foi transformado na sede do partido dele, o Republicanos.

“Ele não é dono da clínica. Isso aí é do povo. É do povo, isso aí”, diz a pensionista Clara Maria Martins.

Parte da estrutura foi mantida

Ao entrar no prédio, é possível ver que parte da estrutura da clínica foi mantida. Existe uma sala com equipamento para mamografia, e outras duas com Raio-X.

Já o tomógrafo, equipamento muito procurado pela população não está mais no local. Em uma rede social, o perfil da clínica mostra o tomógrafo funcionando, em junho do ano passado.

A antiga clínica que virou sede do partido tem instalações prontas para atendimento. No primeiro piso, ficam 12 salas que funcionavam como consultórios. Restaram alguns materiais e medicamentos no imóvel, mas alguns já estão fora da validade.

Os equipamentos da sala de monitoramento do prédio foram retirados, e os cabos estão todos expostos.

“Eu fiz muita coisa aí. Meu marido se tratava aí, eu me tratava. Tinha um cardiologista aí maravilhoso, pediatra, médico de varizes. A clínica era maravilhosa”, diz Clara.

“Eu vou operar o joelho, mas eu tenho que fazer fisioterapia, porque o ortopedista falou que eu tenho que fazer fisioterapia e parou. O pessoal tá precisando, todo dia cobrando. Meu exame sumiu. Desapareceu. Não tem mais exames. Eu fiz um exame aí e não tem mais, sumiu”, conta a dona de casa Cristina Araújo.

No mês passado, o atual prefeito, Márcio Canella (União Brasil), desapropriou o imóvel, com a promessa de reabrir a clínica. Ele tomou posse do local na última sexta-feira (11).

A previsão, segundo a prefeitura, é reativar a unidade em quinze dias.

“A gente quer que a clínica abra. A gente quer uma clínica, os médicos funcionando”, diz a dona de casa Neve Maria da Silva.

O que diz o Partido Republicanos

O partido Republicanos disse que o imóvel era usado de forma regular como sede partidária, que tinha contrato de locação com o proprietário, que foi surpreendido com a decisão da Justiça, mas vai cumprir.

Sobre os materiais médicos, o partido explicou que eles pertencem à empresa que administrava à clínica — o Movimento Internacional para a Saúde e Serviço Social — e que a empresa pediu à direção do partido que guardasse esses materiais.

O RJ1 não conseguiu contato com a empresa.


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