Há ótimos argumentos contra mais um aumento de imposto, mas parlamentares precisam cortar parte das despesas que criaram
Folha de S.Paulo
"O Executivo não pode gastar sem freio", e "o Estado não gera riqueza, consome". Foi assim que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), reagiu ao aumento da carga tributária promovido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na semana passada, as autoridades econômicas projetaram uma expansão da despesa federal, apesar de bloqueios e contingenciamentos, e decretaram alta do do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Motta poderia aproveitar a ocasião para dar consequência prática às preocupações que externou.
Um bom começo seria liderar um esforço para limitar o gasto impositivo a ser executado por meio de emendas parlamentares ao Orçamento — de quase R$ 39 bilhões neste ano, ante um total previsto de pouco mais de R$ 50 bilhões em despesas criadas por deputados e senadores.
Essas emendas de pagamento mandatório, individuais e de bancas estaduais, equivalem a um quarto dos recursos chamados discricionários do governo, basicamente para custeio e investimento. Com a expansão insustentável dos pagamentos de salários e aposentadorias promovida por Lula, as emendas totais deverão responder por quase metade dos gastos federais livres em 2027.
Desde o anúncio do aumento do IOF, deputados e senadores de partidos de oposição propõem a votação de decretos legislativos que cancelem essa ampliação da carga. Há certo ceticismo quanto a tal possibilidade. Sem a receita extra do imposto, o governo teria de contingenciar e, no limite, cancelar certas despesas, o que afetaria também verbas de interesse direto dos parlamentares.
Em vez de se deixar levar pelo menor e mais mesquinho dos interesses, o Congresso Nacional faria bem em desta vez inverter expectativas. Ao mesmo tempo em que tratasse de apagar o canetaço do IOF ou de convencer o governo a fazê-lo, apresentaria uma contenção do gasto executado por indicação de seus membros.
Além do montante sem paralelo conhecido nas principais democracias, a maior parte das emendas parlamentares constitui mais uma modalidade de despesa obrigatória e indexada à arrecadação, características em geral incompatíveis com uma boa gestão orçamentária.
O IOF é sem dúvida um imposto daninho, a não ser quando empregado, com muita moderação, para regular pontualmente fluxos financeiros. O governo Lula decretou o aumento de alíquotas com fins de arrecadação, de modo desesperado, porque esgotam-se seus meios de expandir a receita tributária com apoio político do Legislativo.
Há excelentes argumentos para se opor ao aumento do tributo e à própria estratégia petista de buscar a redução do déficit fiscal sem conter a gastança. O Congresso não pode, porém, fazer dessa questão um mero palanque. Se quer mostrar responsabilidade, precisa também pôr freio nas despesas que cria.
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