Berzoini sugere que emendas do Congresso tem "cashback" de até 40% (VIDEO)

Ex-deputado revela vários "segredos" dos bastidores de Brasília


Por Luiz Carlos Azenha | Revista Fórum

O ex-deputado federal e ex-ministro Ricardo Berzoini disse nesta sexta-feira, 27, ao Fórum Onze e Meia, que existe em Brasília a suspeita de que emendas parlamentares apresentadas por deputados tenham um "cashback" de até 40%.

Tudo por dinheiro.A dupla Alcolumbre-Motta emparedou o governo Lula. | Créditos: Saulo Cruz, Agência Brasil

Berzoini disse que o Congresso hoje é majoritariamente um grande balcão de negócios, em que os deputados operam com a perspectiva de "investir" R$ 80 milhões por ano, ajudando com isso a financiar suas campanhas de reeleição.

Ele criticou a própria existência das emendas impositivas:

"Se pegar os registros da imprensa da época [2013, 2014], eu fui um dos caras que mais bateram no absurdo que é a emenda impositiva. Eu participei da Comissão Especial, eu obstruí os trabalhos na Comissão Especial. A emenda impositiva distorce a relação entre o poder Executivo e o Legislativo, mesmo se fosse parlamentarismo. Porque no parlamentarismo o Parlamento forma o gabinete com participação do presidente ou do rei ou da rainha ou não, mas forma o gabinete Depois, quem executa o Orçamento é o gabinete, não é o Parlamento. E no caso do Brasil, que não é parlamentarismo, a existência de emenda parlamentar já é um escárnio".

O ex-deputado disse ter comparecido nesta sexta-feira a um congresso de trabalhadores dos Correios e sugerido que, com a Central Única dos Trabalhadores, se faça uma campanha para aprovar o fim das emendas parlamentares.

O Congresso hoje é um conjunto de gabinetes e empresas, que cada uma tem um orçamento de 80 milhões de reais. [...] Congresso está virando uma holding de 513 gabinetes da Câmara e 81 no Senado e cada um gerencia 80 milhões, sem contar outros mecanismos orçamentários que eles usam. Eu fui deputado por 16 anos e tive emenda parlamentar. Eu usei as emendas parlamentares, mas usei dentro daquilo que eu entendo que é o correto, que é levar mais Saúde para os municípios, levar mais Educação. Hoje, o pessoal faz emenda parlamentar para financiar show. Há quem diga, não tenho prova, mas há quem diga que emenda parlamentar de show tem cashback de 40%.

Berzoini disse que muitos gabinetes trabalham diretamente com empreiteiras ou fornecedores dos governos municipais e que isso precisa ser debatido com os eleitores:

Vamos discutir esse assunto, talvez o Parlamento brasileiro deixe de ser um local de negociatas. Veja bem, eu acompanhei como sindicalista a CPI do orçamento, dos anões do orçamento. Eram anões, hoje são gigantes. É preciso debater isso.

Esquema floresceu depois do impeachment de Dilma

Para Berzoini, a hipertrofia do Congresso floresceu com o ex-deputado Eduardo Cunha, depois do impeachment de Dilma Rousseff.

"A culpa de ter essa hipertrofia é do golpe contra Dilma e da eleição do Bolsonaro. O Bolsonaro, como tinha uma dificuldade muito grande de lidar com isso, muito maior que a nossa dificuldade, ele colocou o Círio Nogueira da Casa Civil e a Flávia Arruda na Secretaria de Governo para operar o orçamento secreto", afirmou.

Para Berzoini, o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira, relator do projeto do governo Lula que, se aprovado, isentará os brasileiros que ganham até 5 mil reais do Imposto de Renda, provavelmente tem uma demanda específica.

Lira adiou a apresentação de seu relatório supostamente para negociar.

"Ele vai ter que fazer o relatório. Mas ele é o useiro e vezeiro de ficar fazendo relatório de coisa que interessa ao governo para negociar alguma coisa. Em 2014, eu era da Secretaria de Relações Institucionais ou secretário de Governo. E ele era presidente da Comissão de Constituição e Justiça [da Câmara]. E ele se autonomeou relator da recriação da CPMF, que a Dilma propôs. E ele sentou em cima. E ficou claro para mim que ele queria negociar contrapartidas. Certamente ele vai esticar essa corda o quanto ele puder para negociar contrapartidas. Quais são? Eu não sei", disse o ex-ministro.

De acordo com Berzoini, ser líder partidário é hoje muita mais vantajoso do ponto-de-vista econômico:

Os líderes manipulam o poder de indicação, os líderes podem ter R$ 150 milhões, R$ 200 milhões [em emendas] não que tenham, mas podem chegar a isso. Então, o deputado que está na ativa tem um gabinete, ele tem tempo livre, passagem aérea, verba pra comunicação. Como é que uma pessoa que não é parlamentar concorre? Eu falo que eu fui parlamentar por quatro mandatos, é claro que tem uma vantagem pra quem já é. Mas essa vantagem não pode ser tão discrepante assim. Se não, na próxima eleição o índice de renovação vai cair ainda mais.

Cunha de volta através da filha

Sobre a volta de Eduardo Cunha aos bastidores da política, Berzoini faz outra denúncia, a de que o ex-presidente da Câmara, cassado, atua diretamente através do gabinete da filha.

"Acho que o Cunha é um homem de negócios. Então ele faz o que é melhor pra ter o resultado. A filha dele é deputada federal. Também dizem, não tenho provas, que quem manda no gabinete é ele. Quem opera as estratégias do mandato é ele. Ele está operando pesadamente na política nacional. Claro que ele não tem mais o poder que teve lá entre 2013 e 2016, como líder do MDB e depois presidente da Câmara", afirmou.

Berzoini lamentou a baixa qualidade dos congressistas, apontando que a "referência" do Congresso hoje é o deputado bolsonarista Nikolas Ferreira. Disse que o presidente da Câmara, Hugo Motta, colocou como relator da derrubada do IOF, "de sacanagem", o Coronel Chisóstomo (PL-RO):

Foi um voto totalmente demagógico, sem nenhuma conexão com a realidade. Em alguns momentos parecia até que ele era um deputado revolucionário, pela força que ele leu o relatório, que não foi ele que escreveu. Alguém escreveu para ele aquele relatório.

Para Berzoini, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, opera com a mesma lógica de Motta:

O senador que se insurgir contra o Alcolumbre vai ter dificuldades para acessar a parcela [das emendas] que ele manipula. Então é isso, o Parlamento vira o que? Um balcãozão de negócios. Vocês lembram da votação das Diretas Já. Como é que a ditadura operou? Não foi só na truculência. A votação da reeleição do Fernando Henrique, naquela época, foi [na base] da mala. A denúncia veio da própria base do governo. E a imprensa divulgou. Agora não precisa nem de mala. Aliás, na votação do impeachment da Dilma, isso também ocorreu aqui em Brasília fortemente. Um certo hotel tinha praticamente um andar só de tesouraria.

Tesouraria da "turma do açougue"

Berzoini afirmou que a "tesouraria" para pagar os votos que derrubaram Dilma teria acontecido no Hotel Brasília:

E a turma do açougue é que abasteceu. Isso aí também foi denunciado, que a turma do açougue abasteceu o caixa para aprovar o impeachment da Dilma. Quem que é bom de carne no Brasil? Qual é a maior empresa do Brasil hoje, privada?

Depois de golpear Dilma, Michel Temer foi "incentivado" a manter a mesada do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, depois que ele foi alvo da Opertação Lava Jato. Em delação, os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, confirmaram que tramaram a gravação. "Tem de manter isso aí", disse Temer, em conversa gravada por Joesley.

Cunha seria o dono de segredos impublicáveis sobre os bastidores de Brasília.

Em 2017, a JBS foi alvo da Polícia Federal sob Michel Temer. A Operação Carne Fraca causou grandes danos financeiros à empresa. Ao fazer delação, os donos da empresa disseram ter repassado U$ 30 milhões para que Eduardo Cunha se elegesse presidente da Câmara -- R$ 5,6 milhões em doação oficial, 12 milhões em dinheiro vivo e 10,9 milhões em pagamentos com notas frias.

De acordo com o depoimento de Joesley à PF, um diretor da empresa, Ricardo Saud, entregou R$ 500 mil em dinheiro vivo a Ciro Nogueira, o presidente do Progressistas.

Michel Temer escapou de um pedido de impeachment, Ciro Nogueira segue no seu cargo, Eduardo Cunha -- segundo Berzoini -- está de volta através do gabinete da filha e a JBS teve grande expansão depois do escândalo. Todos eles se dizem inocentes de qualquer acusação.

Acompanhe abaixo a íntegra da entrevista de Berzoini ao Fórum Onze e Meia

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