Dados da Secretaria de Estado de Fazenda mostram que a soma dos valores de 2021 a 2024 corresponde a quase 40% da dĂvida com a UniĂŁo
Alessandra Mello | Estado de Minas
Em um dos estados mais endividados do Brasil, a renĂșncia fiscal cresceu entre 2021 e 2024 e passou de R$ 13 bilhĂ”es para R$ 20,2 bilhĂ”es em Minas. Somente nesse perĂodo, o aumento da renĂșncia fiscal, quando o estado abre mĂŁo de parte de algum tributo devido por empresas, teve um acrĂ©scimo de 55%. SĂŁo cerca de 7 mil empresas contempladas em 76 regimes especiais, de acordo com informaçÔes da Secretaria de Estado de Fazenda (SEF-MG).
![]() |
A renĂșncia fiscal ocorre quando o governo (federal, estadual ou municipal) abre mĂŁo de receber o total ou parte dos tributos devidos | crĂ©dito: Paulo Miranda/Ilustração |
Somadas, as renĂșncias desse perĂodo correspondem a quase 40% da dĂvida de Minas Gerais com a UniĂŁo, estimada em cerca de R$ 170 bilhĂ”es, e representam quase o dobro do que o estado precisa arrecadar com a entrega de ativos para abater parte dos juros da dĂvida com a UniĂŁo no novo modelo de renegociação dos dĂ©bitos aprovado pelo Congresso Nacional, no fim de 2024.
Os nĂșmeros da Secretaria de Fazenda nĂŁo refletem todos os dois mandatos do governador Romeu Zema (Novo), que assumiu o comando do estado em 2019. O crescimento pode ser ainda maior, jĂĄ que o governo sĂł disponibiliza na pĂĄgina da SEF-MG os dados a partir de 2021. Questionada sobre os valores anteriores, a pasta nĂŁo respondeu atĂ© o fechamento desta edição.
RenĂșncia fiscal concedida por Minas Gerais (SEF-MG)
Os nĂșmeros da Secretaria de Fazenda nĂŁo refletem todos os dois mandatos do governador Romeu Zema (Novo), que assumiu o comando do estado em 2019. O crescimento pode ser ainda maior, jĂĄ que o governo sĂł disponibiliza na pĂĄgina da SEF-MG os dados a partir de 2021. Questionada sobre os valores anteriores, a pasta nĂŁo respondeu atĂ© o fechamento desta edição.
RenĂșncia fiscal concedida por Minas Gerais (SEF-MG)
- 2021: R$ 13 bilhÔes
- 2022: R$ 15,3 bilhÔes
- 2023: R$ 18,8 bilhÔes
- 2024: R$ 20,2 bilhÔes
O governador vem sendo pressionado pela oposição – e tambĂ©m pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG) – a adotar mais transparĂȘncia nessas concessĂ”es e a conter os benefĂcios em função da situação fiscal do estado. Na semana passada, o vice-governador, Mateus SimĂ”es (Novo), anunciou que o estado vai divulgar a relação de todos os contribuintes mineiros que fazem jus ao benefĂcio fiscal. Recentemente, o TCE-MG alertou o governo a respeito dos valores elevados de recursos que o estado tem aberto mĂŁo em favor das empresas.
RenĂșncia fiscal estimada na Lei de Diretrizes OrçamentĂĄrias (LDO/ALMG)
- 2018: R$ 4,8 bilhÔes
- 2019: R$ 6,1 bilhÔes
- 2020: R$ 6,8 bilhÔes
- 2021: R$ 7,9 bilhÔes
- 2022: R$ 10,1 bilhÔes
- 2023: R$ 14,8 bilhÔes
- 2024: R$ 18 bilhÔes
- 2025: R$ 21,8 bilhÔes
- 2026: R$ 23,1 bilhÔes
Ao analisar as contas referentes ao ano de 2022, o TCE-MG observou que os incentivos fiscais concedidos pela gestĂŁo Zema naquele ano representaram mais de 10% da receita corrente lĂquida do estado e se aproximaram dos repasses constitucionais e despesas obrigatĂłrias.
Em 2022, segundo dados da SEF-MG, a renĂșncia fiscal foi de R$ 10,1 bilhĂ”es, frente a uma receita de R$ 89,1 bilhĂ”es, sendo que a maior parte desses valores (R$ 81,7 bilhĂ”es) vieram de tributos arrecadados pelo estado.
A maior parte das renĂșncias feitas pelo governo mineiro Ă© por meio da isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviço (ICMS). TambĂ©m constam dos dados informados pela SEF-MG renĂșncias referentes a Imposto Sobre Propriedade de VeĂculos Automotivos (IPVA) e Imposto Sobre TransmissĂŁo de Causa Mortis e Doação (ITCD), alĂ©m de taxas nĂŁo especificadas.
O que Ă© renĂșncia fiscal?
A renĂșncia fiscal ocorre quando o governo (federal, estadual ou municipal) abre mĂŁo de receber o total ou parte dos tributos devidos. O ato de renunciar a uma receita pĂșblica Ă© uma polĂtica de governo, com o objetivo, dentre outros, de incentivar o desenvolvimento de setores econĂŽmicos estratĂ©gicos ou de regiĂ”es do paĂs.Problemas para a economia
A corte de contas tambĂ©m destacou a dificuldade de acompanhar os incentivos que nĂŁo sĂŁo votados pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e pontuou ainda que alguns desses benefĂcios estĂŁo sendo concedidos para empresas em vez de setores, o que pode criar problemas para a economia do estado.Um projeto de lei em tramitação na Assembleia – aprovado em primeiro turno no mĂȘs passado – busca dar maior transparĂȘncia no estado aos regimes especiais de tributação: quando o governo cobra um imposto menor de determinado setor ou atividade empresarial, em relação aos demais contribuintes. De acordo com o vice-governador de Minas, no dia do anĂșncio da decisĂŁo do estado em divulgar os beneficiĂĄrios dessas renĂșncias, sĂŁo cerca de sete mil regimes especiais de tributação no estado.
As renĂșncias tambĂ©m, conforme apontam os dados da SEF-MG, sempre acabam sendo maiores que o previsto na Lei de Diretrizes OrçamentĂĄrias (LDO) do estado, que fixa as despesas e receitas do ano e tambĂ©m preveem quanto o estado vai abrir mĂŁo de impostos. Esses nĂșmeros podem ser consultados na proposta orçamentĂĄria enviada pelo estado para ser aprovada anualmente pelo Legislativo.
Em 2021, a LDO previa uma renĂșncia de R$ 7,9 bilhĂ”es, que acabou se consolidando na casa de R$ 13 bilhĂ”es. E assim foi sucessivamente nos anos seguintes conforme levantamento feito com base nos dados da lei orçamentĂĄria. Na LDO, a previsĂŁo de renĂșncia fiscal no primeiro ano do governo Zema foi de R$ 4,9 bilhĂ”es.
Na LDO para 2026, que deve ser votada sempre no ano anterior, a previsĂŁo Ă© que o estado abra mĂŁo de R$ 23,1 bilhĂ”es. A previsĂŁo de renĂșncia no orçamento do ano passado era de R$ 18 bilhĂ”es e fechou em R$ 20,2 bilhĂ”es. Em 2018, Ășltimo ano do governo Fernando Pimentel (PT), que antecedeu Zema no comando do estado, a estimativa de renĂșncia era de R$ 4,8 bilhĂ”es.
PolĂȘmica no IPVA
A mais polĂȘmica renĂșncia fiscal concedida pelo governo Zema e alvo de crĂticas da oposição Ă© a redução da alĂquota de IPVA sobre veĂculos alugados e revendidos, de 4% para 1%, proposta pelo Executivo e aprovada em 2022, ainda no primeiro mandato do governador.Na Ă©poca, o estado alegou que a medida visava evitar a saĂda das empresas do estado, enquanto a oposição alegava um possĂvel favorecimento Ă Localiza, empresa de revenda e aluguel de veĂculos que foi uma das doadoras da campanha de Zema Ă reeleição.
De acordo com nota enviada Ă reportagem pelo governo do estado, as renĂșncias fiscais “sĂŁo um mecanismo legal utilizado por diversas administraçÔes pĂșblicas, visando aprimorar a atração de negĂłcios e estimular a geração de emprego e renda, alĂ©m de garantir a superioridade competitiva aos estados diante da concorrĂȘncia de entidades federativas”. O governo destacou ainda que Minas Gerais ultrapassou a marca de 980 mil postos de trabalho, o que coloca o estado no topo do ranking de maior estoque de empregos do paĂs, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Leia a Ăntegra da nota da SEF-MG
“As renĂșncias fiscais sĂŁo um mecanismo legal utilizado por diversas administraçÔes pĂșblicas, visando aprimorar a atração de negĂłcios e estimular a geração de emprego e renda, alĂ©m de garantir a superioridade competitiva aos Estados diante da concorrĂȘncia de entidades federativas. Em Minas, atualmente existem cerca de 7 mil empresas contempladas em 76 regimes especiais. Minas Gerais ultrapassou a marca histĂłrica de 980 mil postos de trabalho gerados pela atual gestĂŁo, o que coloca o Estado no topo do ranking de maior estoque de empregos do paĂs, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).Este Ă© um dos resultados consolidados pela estratĂ©gia de renĂșncias fiscais, responsĂĄvel tambĂ©m por desenvolver o Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais, que pela primeira vez na histĂłria alcançou a inĂ©dita marca de R$ 1 trilhĂŁo, em 2024.
Com respeito aos valores renunciados nos anos de 2018, 2019 e 2020, constam das prestaçÔes de contas enviadas ao TCE/MG nas respectivas datas. O Governo de Minas, motivado pela transparĂȘncia na administração pĂșblica, estĂĄ em tratativas para publicar a relação de empresas beneficiadas.”
Postar um comentĂĄrio
Grato por sua colaboração.