Servidor diz que foi coagido a acusar inocentes em caso de tentativa de homicídio de Max dos Medicamentos. Nova fase do inquérito deve apurar falsidade ideológica e denunciação caluniosa
Renata Cristiane | O Dia
Araruama - O ex-prefeito de Araruama, Chiquinho da Educação, está no centro de novas acusações que apontam tentativa de obstrução de Justiça no caso da tentativa de homicídio contra o empresário Max Maximino Claudino dos Santos — conhecido como Max dos Medicamentos — ocorrida em agosto de 2024. Segundo documentos registrados em cartório e na delegacia, o ex-prefeito e o advogado Rodrigo Bach Barreto teriam articulado a inclusão de nomes de inocentes nos autos da investigação.
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Ex-prefeito de Araruama, Chiquinho da Educação | Reprodução |
As revelações vieram à tona após o servidor público Eduardo dos Santos Damas, atualmente preso no Presídio Evaristo de Moraes, no Rio de Janeiro, retificar seu depoimento anterior e afirmar que foi coagido a prestar falso testemunho. Em declaração formal, Eduardo relatou que, após a morte de seu filho em confronto com a polícia, foi abordado por Rodrigo Barreto, que lhe mostrou a foto do filho morto e propôs um acordo: ele deveria apontar empresários e políticos como responsáveis pelo crime, em troca de apoio jurídico, estabilidade funcional e ajuda financeira.
"Mesmo sem entender o que estava acontecendo (…), acabei cedendo à pressão psicológica. Rodrigo me induziu a relatar uma versão completamente fabricada, incluindo o nome do meu próprio filho como membro de um grupo de extermínio", declarou Eduardo, em escritura registrada no 24º Ofício de Notas, no dia 8 de julho. Ainda segundo ele, a narrativa teria sido orientada diretamente por Chiquinho da Educação, identificado nos depoimentos como “01”, em troca de promessas como R$ 300 mil e permanência no cargo público.
Entre os nomes que Eduardo foi orientado a incluir como mandantes e executores do crime estão os empresários Polati e Bruno Cabeção, além de policiais e vereadores da cidade. No entanto, em novo termo prestado à 118ª DP, na última segunda (14), acompanhado da nova advogada, Patrícia Carvalho Falcão, o servidor voltou atrás e declarou que não conhece e nunca ouviu "falar desses nomes. Tudo foi uma construção dele [Rodrigo] e de Chiquinho".
Eduardo afirmou ainda que apenas três pessoas mencionadas nos depoimentos anteriores tinham algum grau de relação com ele — sendo um vizinho, um parente por afinidade e um comerciante local. Os demais seriam totalmente desconhecidos.
As novas declarações reforçam suspeitas já levantadas por investigadores sobre uma suposta tentativa de desviar o foco da investigação e envolver adversários políticos e empresários ligados a contratos públicos na cidade. O caso ganha contornos ainda mais graves ao envolver possível atuação de milicianos com ligações políticas na Câmara Municipal de Araruama.
Fontes ligadas à investigação confirmaram que tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro avaliam abrir uma nova frente de apuração para investigar os crimes de coação de testemunha, falsidade ideológica, obstrução de Justiça e denunciação caluniosa — este último com pena prevista de até oito anos de reclusão.
Enquanto isso, o inquérito entra em nova fase. A prioridade das autoridades agora é identificar quem participou da suposta fabricação de provas e verificar se houve uso da máquina pública para garantir benefícios ilegais a Eduardo. As revelações devem impulsionar medidas cautelares e pedidos judiciais por parte dos órgãos de controle.
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