Tarifaço é “uma segunda enchente” para RS, diz presidente da Fiergs à CNN

Entidade projeta até 145 mil demissões entre exportadores e seus fornecedores com tarifa de Trump


João Nakamura | CNN

Os industriais do Rio Grande do Sul levaram suas reivindicações ao presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), na tarde da véspera, segunda-feira (21).

Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (RS) • Isac Nóbrega/PR

A projeção da entidade que representa o grupo, a Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), é de que o estado deve registrar até 145 mil demissões em decorrência do tarifaço, afetando tanto as empresas exportadoras como seus fornecedores de embalagens, suprimentos e afins.

“Falei na reunião que é como se fosse uma segunda enchente para o nosso estado”, disse à CNN Claudio Affonso Amoretti Bier, presidente da entidade.

O empresário faz referência às chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e maio de 2024, catástrofe que deixou um impacto bilionário no estado.

Mais de 180 pessoas morreram em decorrência das enchentes, que inundaram 96% do estado. Um ano depois, a CNN esteve de volta aos pampas, constatando que, até hoje, 25 pessoas permanecem desaparecidas, segundo a Defesa Civil gaúcha.

Bier conta que, neste primeiro momento, as empresas têm forçado férias coletivas para poder lidar com o vácuo deixado pela incerteza decorrida do tarifaço.

Sobre a necessidade de demissões, o presidente da Fiergs afirma que “certamente vai ser o segundo momento se não houver um acerto” entre o governo brasileiro e o norte-americano.

O empresário relatou à CNN que foi à Brasília acompanhado dos exportadores mais afetados do estado: os setores de móveis, couro, plástico e madeira, por exemplo. Este último, tem 90% de sua operação concentrada entre os três estados da região Sul.

A CNN apurou que associados da Abimci (Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente) já estão, de fato, dando férias coletivas “na tentativa de ganhar tempo e preservar empregos, enquanto outras estão planejando desligamentos”.

O presidente da Fiergs enfatizou que “a reunião [com o governo] foi muito boa”, uma oportunidade para os industriais mostrarem “as dificuldades que já estão acontecendo no Rio Grande do Sul, que é o segundo estado depois de São Paulo em exportação para os Estados Unidos”.

O empresário ressalta que a indústria do estado têm uma atividade dependente dos EUA, com empresas que registram até 95% de seus caixas com vendas aos norte-americanos.

“A reunião foi muito amistosa, o vice-presidente Alckmin falando em diálogo nos deixou um tanto quanto animados. Não tem outra maneira de resolver esse problema a não ser com muita conversa e diálogo. Se partirmos para o confronto vai ser muito pior, não se pode dar ‘canelada’ em gigante”, reforçou Bier.

Desde a terça-feira da semana passada (15), Alckmin vem reunindo o setor produtivo com o comitê interministerial que lidera para traçar a resposta ao tarifaço de Trump.

No dia 9 de julho, o presidente dos Estados Unidos anunciou que irá aplicar, a partir do dia 1º de abril, uma alíquota de 50% sobre os produtos brasileiros que entrarem em solo norte-americano.

O empresariado como um todo defende uma postura mais diplomática por parte do governo a fim de evitar uma escalada na tensão comercial.

Outro pleito do setor privado é que o Executivo peça pelo adiamento da tarifa para conseguir fôlego diplomático - garantindo mais tempo para negociação - e técnico - permitindo aos exportadores se adaptarem à nova realidade.

“Nós cobramos a prorrogação, mas o que ele [Geraldo Alckmin] alegou é que, antes do final do mês, não poderia pedir antes de encerrar o prazo que foi dado para o Brasil”, relatou Bier.

Durante a reunião, o industrial disse ter sido surpreendido pela notícia de que importadores de laranja dos EUA estavam entrando com uma ação contra a Casa Branca. “Talvez venha de lá alguma solução”, exclamou o presidente da Fiergs.

Segundo Bier, a única orientação que veio por parte do governo na reunião foi, na realidade, o reforço de uma informação: mesmo mercadorias já vendidas aos EUA antes do tarifaço e que já estejam a caminho do país, se chegarem lá após o 1º de agosto, elas também serão taxadas com a alíquota de 50%.

O presidente da Fiergs aponta que estes exportadores estão alarmados, pois “não sabem o que fazer”. O industrial relata que muitas empresas do RS buscaram tentar enviar suas mercadorias por avião invés de barco, contudo, “foi uma corrida tão grande que os voos ficaram todos lotados, não tinha mais lugar”.

Olhando para a relação de parceria histórica que o Brasil tem com os EUA e o fato de esta ser favorável a eles, Bier avalia que a alíquota de 50% “parece uma coisa meio descabida”, ainda mais considerando que países com quem os norte-americanos colhem desavenças, como a China e a Venezuela, foram atingidos por taxas menores.

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