Neto do ditador João Figueiredo está nos EUA com Eduardo Bolsonaro e é um dos articuladores de retaliações do governo Trump a autoridades brasileiras
Por Ivan Longo | Revista Fórum
A ofensiva de Donald Trump contra o Brasil atingiu novos alvos nesta quarta-feira (20), com o anúncio de Paulo Figueiredo, neto do ditador João Figueiredo, de que os vistos do ministro Ricardo Lewandowski (Justiça) e do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foram revogados pelo governo dos Estados Unidos. Segundo Figueiredo, a revogação foi confirmada por autoridades do Departamento de Estado, mas Lewandowski e Pacheco ainda não foram oficialmente notificados, e o governo americano não comentou a medida.
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Ricardo Lewandowski e Rodrigo Pacheco | Lula Marques/Rovena Rosa/Agência Brasil |
A suposta revogação faz parte de uma série de retaliações dos EUA contra autoridades brasileiras. No último mês, ministros do STF tiveram seus vistos cancelados e Alexandre de Moraes, relator da ação penal sobre a tentativa de golpe de Estado, foi ainda alvo da Lei Magnitsky, uma medida internacional que congela ativos e penaliza instituições financeiras que mantiverem contas bancárias dos sancionados e possuem relações com os EUA.
Motta e Alcolumbre
Em entrevista ao site "Poder 360", Paulo Figueiredo afirmou que o cancelamento do visto de Pacheco foi um recado direcionado aos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). "É uma demonstração de que aqueles que utilizarem a posição do Legislativo para encobrir os crimes do [ministro do STF] Alexandre de Moraes também vão sofrer as consequências. O Pacheco segurou duas dúzias ou mais de processos de impeachment que ele não deu seguimento", disse o bolsonarista.Figueiredo também adiantou que Motta e Alcolumbre podem ser os próximos a perder seus vistos, caso continuem "segurando a anistia" aos presos e investigados pelos acontecimentos de 8 de janeiro. As ameaças de retaliações seguem a lógica de pressionar as autoridades brasileiras que se opõem aos interesses de Bolsonaro e seus aliados.
Alexandre Padilha
Servidores ligados ao programa Mais Médicos e o ministro da Saúde do governo Lula, Alexandre Padilha, também foram alvo recentemente das retaliações de Trump.Marco Rubio, secretário de Estado dos EUA anunciou na última semana a revogação dos vistos de Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde; e Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais do Ministério da Saúde e ex-diretor de Relações Externas da Opas.
Além disso, o governo Trump cassou os vistos de entrada da esposa e da filha de 10 anos de idade de Alexandre Padilha, que reagiu com indignação.
“As pessoas que fazem isso e o clã Bolsonaro, que orquestra isso, têm que explicar, não para mim, não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro, qual o risco que uma criança de 10 anos de idade pode levar para o governo americano. Ela, sequer, era viva, tinha nascido quando eu criei o programa Mais Médicos e com muito orgulho”, declarou.
Indiciamento por coação
A Polícia Federal (PF) indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e o filho dele, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), sob a acusação de tentativa de obstrução de Justiça. Segundo os investigadores, pai e filho teriam atuado para dificultar as apurações sobre a ação penal da trama golpista.Segundo o relatório da PF, a partir da análise do celular de Jair Bolsonaro, foram recuperados áudios e mensagens apagadas que envolvem Eduardo Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia. Esses registros, de acordo com a polícia, reforçam indícios de que os dois teriam participado de articulações para intimidar autoridades e comprometer o andamento dos inquéritos.
Os investigadores identificaram conversas em que o ex-presidente cogitava pedir asilo político ao presidente argentino Javier Milei.
Eduardo Bolsonaro também é citado como articulador de uma ofensiva internacional contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado buscou apoio do governo dos Estados Unidos para impor sanções a integrantes da Corte, numa tentativa de ampliar a pressão sobre o Judiciário brasileiro.
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A movimentação do parlamentar motivou, em maio, a abertura de um inquérito específico contra Jair Bolsonaro, que atualmente cumpre prisão domiciliar por descumprimento de ordens judiciais.
O caso avança em meio a uma série de diligências autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes. Em julho, o magistrado prorrogou as investigações por mais 60 dias, destacando a necessidade de aprofundar a coleta de provas.
A investigação e a instalação do inquérito ocorreram após solicitação da Procuradoria Geral da República (PGR) para apurar a prática dos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito por parte de Eduardo Bolsonaro.
Diante da análise do relatório, a Procuradoria-Geral da República deve avaliar se oferecerá denúncia contra Jair e Eduardo Bolsonaro. O ex-presidente já é réu em ação penal sobre a tentativa de golpe no STF.
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