'Jogo Político': Silas Malafaia tenta mobilizar fiéis, mas silêncio de rivais esvazia o movimento

Newsletter semanal do jornalista Thiago Prado mostra que ausências falam muito sobre a falta de coesão no segmento e a rejeição ao nome do pastor e recomenda o livro 'O ego é seu inimigo: como dominar o seu pior adversário'


Por Thiago Prado na newsletter Jogo Político | O Globo

Bom dia, boa tarde, boa noite, a depender da hora em que você abriu esse e-mail. Sou o editor de Política e Brasil do GLOBO e nessa newsletter você encontra análises, bastidores e conteúdos relevantes do noticiário político.

O pastor Silas Malafaia em culto de sua igreja, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, no Rio — Foto: Brenno Carvalho/Agência O Globo/20-10-2022

Alvo de busca e apreensão da Polícia Federal na quarta-feira, o pastor Silas Malafaia vinha disparando mensagens de Whatsapp nos últimos dias com vídeos de políticos em seu apoio, além de um abaixo-assinado de 26 lideranças evangélicas que repudiam a medida tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Embora tenha tentado mobilizar uma onda de solidariedade ao seu redor, ausências na lista falam muito sobre a falta de coesão no segmento e a rejeição ao seu nome.

Ficaram em silêncio o bispo Edir Macedo, da igreja Universal do Reino de Deus; o missionário R.R. Soares, da igreja Internacional da Graça de Deus; e o apóstolo Valdemiro Santiago, da igreja Mundial do Poder de Deus. Desde os anos 80, o G-4 dos televangelistas neopentecostais costuma brigar por política ou por negócios — são décadas de divergências públicas sobre quais candidatos apoiar, além de concorrências milionárias entre si por espaços nas emissoras de rádio e TV.

— Que Macedo, R.R. Soares e Valdemiro não me apoiariam, eu já sabia. Quando é que eles se posicionaram por uma causa evangélica nos últimos tempos? — reclama Malafaia, enaltecendo outros apoios da velha guarda como o apóstolo Estevam Hernandes, da Renascer, o bispo Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra,e os irmãos Abner e Samuel Ferreira, do Ministério Madureira da Assembleia de Deus.

Durante a semana, o ministro André Mendonça, do STF, tentou convencer Gilmar Mendes que envolver Malafaia em um inquérito poderia fazer o clima esquentar no país. “A ação pode colocar a massa de evangélicos numa posição contrária à Corte”, disse Mendonça ao colega, segundo apurou a colunista Bela Megale, como se os fiéis brasileiros integrassem um bloco monolítico de pensamento.

Além da falta de mobilização de Macedo, R.R. Soares e Valdemiro, outro fator torna improvável a tese de André Mendonça. Malafaia também foi ignorado nos últimos dias pelos jovens influenciadores evangélicos, que cada vez mais conquistam os fieis brasileiros. É o caso de Deive Leonardo, de 35 anos e 16,7 milhões de seguidores no Instagram, e Tiago Brunet, de 44 anos e 7,4 milhões de seguidores.

Nos últimos anos, a rejeição a Malafaia no segmento cresceu conforme o pastor se aproximou do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dois já se bicaram inúmeras vezes em público, mas a conexão se consolidou depois de cumprida a promessa da nomeação “terrivelmente evangélica” de André Mendonça para o Supremo. Naquela época, os interesses da igreja Universal de Macedo não foram atendidos. Marcos Pereira, presidente do Republicanos, também queria a vaga, mas foi rejeitado pelo ex-presidente.

Embora as lideranças evangélicas tenham apoiado Bolsonaro em 2018 e 2022, incomoda demais a todos o nível de influência que Malafaia conquistou com o ex-presidente. O relatório da PF divulgado anteontem é a maior prova de que o pastor tornou-se uma espécie de Rasputin do ex-presidente. Além de mostrar alguém confortável em chamar Eduardo Bolsonaro de ‘babaca’ para o próprio pai, os diálogos pelo Whatsapp evidenciam que a opinião do pastor está sendo muito levada em conta na crise do tarifaço. Eis um exemplo de conversa entre os dois:

“ Terminei uma carta agora. Estou digitando e te envio. Aguardo suas observações”, escreveu Bolsonaro sobre um texto de sua autoria falando das medidas tomadas pelo governo Donald Trump. “Ficou top! Só uma questão para pensar: você não acha melhor gravar um vídeo falando do que esta carta do seu jeito? O brasileiro vê muito mais vídeo do que lê carta. Questão cultural”, orientou Malafaia para um ex-presidente que só não foi em frente com a ideia porque estava com uma crise de soluços.

Assim como no meio evangélico, a onda de solidariedade na política também tem sido restrita. Enquanto bolsonaristas mais radicais como Nikolas Ferreira (PL-MG) defendem Malafaia, o Centrão ignora o pastor. Até porque o odeia. Nos últimos meses, os vídeos de Malafaia têm focado em atacar senadores como Davi Alcolumbre e Ciro Nogueira por não encaminharem o impeachment de Alexandre de Moraes.

Na tarde de ontem, após a apreensão do seu celular, o pastor já estava com um aparelho novo. Restou a ele uma resenha por telefone com Deltan Dallagnol, o ex-procurador-chefe da operação Lava-Jato, para falar mal de Moraes.

— Vou continuar agindo da mesma forma. Só vou parar se me prenderem — diz Malafaia, como se no fundo desejasse a detenção.

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